segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Duas cantigas de Folia de Reis da Ilha Grande

Folia de Reis é um folguedo muito difundido pelo Brasil, usualmente realizado no dia 6 de janeiro, encerrando o ciclo de atividades natalinas. Consiste de um cortejo que reproduz a viagem dos três reis magos ao encontro do recém nascido menino Jesus. Tradicionalmente os foliões saem à noite, visitando várias casas onde cantam e são recebidos com alguma comida e bebida. 


Em outubro de 2015, conversei com Benedito Crespim do Rosário – pescador, cantador e pandeirista conhecido pelo apelido de Côco – que durante muitos anos conduziu um grupo de folia de Reis na Ilha Grande. Ele me passou duas cantigas que cantava durante os cortejos das folias. Uma cantiga de abertura, quando os foliões pedem ao dono de uma casa visitada para abrir a porta, e uma cantiga de despedida, composta pelo próprio Côco, cantada quando os foliões deixam a casa visitada. As duas músicas são transcritas abaixo. 



FOLIA DE REIS – cantiga de abertura
Autor: desconhecido 

Os três reis com as Três Marias marcharam para Belém (bis)
Eles foram cantar Reis e vamos nós cantar também

Nasceu Jesus numa noite de alegria
Acompanhado dos seus anjos, filhos da virgem Maria (refrão)

São José foi carpinteiro trabalhou na serraria (bis)
Ele quem serrou madeira pra a Igreja de Maria 

        (refrão)              

Tou aqui em vossa porta como um feixinho de lenha (bis)
Tou a espera da resposta que da sua boca venha

       (refrão)              

Pelo buraco da chave eu vi a luz relampear (bis)
Eu vi o dono da casa devagar se levantar

       (refrão)              

Meu senhor que tá dormindo, por favor, abra essa porta (bis)
Eu não posso mais cantar que o meu peito já deu volta

      (refrão)              








FOLIA DE REIS – cantiga de despedida
Autor: Benedito Crespim do Rosário(Côco)

Adeus querida eu vou embora
Querida não chora, querida não chora
Esta é a despedida, adeus, adeus, adeus 







quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Cirandas da Ilha Grande II: O Arara

“Arara” é uma antiga gíria do sul do estado do Rio de Janeiro usada para designar a figura dos andarilhos, como nos conta Cáscia Frade no seu Guia do Folclore Fluminense (1985). E é esta figura do andarilho que está representada na dança do Arara, uma das miudezas da ciranda sul fluminense. Dança de pares soltos que se organizam em círculo ficando um folião caracterizado de arara ao centro. Este traz um chapéu que, em momento oportuno, coloca na cabeça de algum dançarino da roda e troca de lugar com ele. O arara, além do chapéu, por vezes carrega também, como parte de sua caracterização de andarilho, uma bengala e um saco de aniagem nas mãos.  

Benedito Crespim do Rosário, cantador e pandeirista conhecido como Côco, nos trouxe uma versão do Arara que animava bailes de ciranda na Ilha Grande em tempos passados (entrevista feita em 14 de outubro de 2015). Versão que está aqui transcrita em partitura e disponibilizada on-line em https://www.youtube.com/watch?v=TzcIU0jQksg.  A cantiga tem duas variantes melódicas com versos que podem ser recriados ou improvisados pelo cantador e um refrão que se mantém constante e sempre se repete entre as estrofes. Esta versão é bem distinta de outras versões do Arara ouvidas no sul fluminense, como, por exemplo, a publicada no livro Cantos do Folclore Fluminense, de Cáscia Frade (1986), ou a executada no CD Ciranda de Paraty, dos Coroas Cirandeiras, o que reforça a originalidade do cancioneiro de cirandas da Ilha Grande. 
   





quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Um poema popular

ABC é uma forma poética tradicional, em que estrofes, usualmente de quatro versos, são criadas a partir da seqüência das letras do alfabeto. É uma forma muito antiga, já tendo sido encontrada em textos europeus do IV. Existem registros de ABCs em várias partes do Brasil, como pode ser apreciado, por exemplo, nos “Cantos e Contos  do Brasil", de Sílvio Romero. No sertão brasileiro, em outros tempos, tinha função de registrar biografias de pessoas destacáveis ou documentar acontecimentos relevantes. 

Diamante Cocotóis, descendente de gregos, era uma senhora detentora de incrível memória. Ela nasceu na Ilha Grande, possivelmente na década de 1930, e passou quase toda sua vida na Vila do Abraão. Foi para cidade de Angra dos Reis apenas na velhice, quando adoeceu e teve que ficar aos cuidados alheios, em uma casa de repouso, até seu falecimento no ano de 2015.

Trago aqui um singelo ABC de amor e saudade, infelizmente incompleto e de autor desconhecido, que transcrevi de uma gravação em fita cassete que fiz com Diamante no início dos anos 2000, quando ela me me deixou registrar várias de suas lembranças de meninice.  

Amada do coração
Adeus que eu já vou embora
Clamando de saudades tua
Suspirando toda hora

Bem sabes prenda querida
Que eu te amo de verdade
Se soubesses que eu morri
Digas que foi a saudade

Contigo eu vivo em sentido
Toda noite todo dia
Quando eu não posso te ver
Não posso ter alegria

De ti, quando me apartei
Foi com prantos e suspiros
Meus olhos vivem chorando
Quando me vêem nesse arretiro

Eu vivo só imaginando
Como poderei passar
Sem te ver a tanto tempo
Nesse tristonho lugar

Fechou-se meu coração
Meus olhos vivem chorando
Lágrimas em mim não cabem
Sozinha, aqui estou penando

Grandes desgostos eu tenho
Grandes penas me acompanham
Grandes tormentos eu padeço
Nessas terríveis montanhas

Hei de mostrar meu sentido
Do que sinto em minha vida
Em lembranças envolventes [?]
De pessoas tão queridas

Ainda eu não separei
De mim aquela agonia
Que tive quando apartei
De ti [?] em tão triste dia

Já passei tantos tormentos
Que mal digo a minha sorte
Quando de ti me apartei
Já senti a dor da morte

Cada vez que eu me recordo
Daquela tarde ditosa
Que teve por despedida
Fico ainda pesarosa

Lágrimas hei de chorar
Enquanto tiverdes esperança
Quando eu não te posso ver
Chorai minha vingança

Meu peito padece dor
Minha alma sofre agonia
Meus olhos vivem chorando
Terão consolo algum dia

Não posso mais relatar
O meu grande sofrimento
Minha vida acabarei
Contigo no pensamento

O mundo falso, enganoso
Sempre me traz perseguida
Mas eu só sinto não ver
A minha prenda querida

Por dentro toda firmeza
Embora estejas ausente
Lembrando sempre de ti
Como se fosse presente

Quem me dera adivinhar
Se tu te lembras de mim
Como de ti me alembro
Lembranças que não tem fim

Retratas a formosura
Oh, que coisa tão galante
Eu só te posso comparar
Com pedra [...] e diamante

Senhor, eu vou vos [?] pedir
Por amizade um favor
Por estares de mim ausente
Não me negues teu amor

Tenho te dito meu bem
Todos meus pensamentos
Para de novo te ver
Eu vivo contando os momentos

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Viola de bambu: um raro instrumento musical presente na Ilha Grande

Publicado no jornal O Eco (Angra dos Reis, Ilha Grande), dezembro de 2015

Na edição de agosto de 2015 de O ECO, publiquei um artigo intitulado “Viola e rabeca de taquara no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro”, onde mencionava com dúvidas a possibilidade da existência de violas de bambu (bambu é sinônimo de taquara) na Ilha Grande. A viola de bambu é um instrumento raro e muito pouco noticiado na literatura. Aparentemente sua origem é indígena; Helza Camêu faz um dos poucos relatos sobre este instrumento no seu livro “Introdução ao estudo da música indígena brasileira”, publicado em 1977.

Em 14 de outubro do ano corrente, tive a oportunidade de conversar com dois antigos moradores nativos da Ilha Grande: Benedito Crespim do Rosário, conhecido pelo apelido de Côco, e Arlete Maria Oliveira de Castro (o trecho da entrevista referente a esta matéria está disponível on-line: https://www.youtube.com/watch?v=bbhQEIfJSPE). Eles me falaram pormenorizadamente da existência de viola de bambu na Ilha Grande. Contaram como se fosse um instrumento dos tempos passados, que caiu em desuso há anos. De fato, busquei informações sobre estas violas com vários moradores mais novos e não obtive nenhuma resposta. A peculiaridade de sua construção, sua raridade, sua origem indígena fazem deste instrumento objeto de grande interesse, mais um dos tesouros culturais da Ilha Grande




O Côco falou que para fazer estas violas “tirava aquela pelizinha do bambu [...] e colocava um pauzinho por baixo [...]. Tinha umas cinco ou seis cordas [...] aí dava um som bom, que ela esticava bem. [...] Isto começou como brincadeira de criança, depois... Por exemplo, tinha um baile e não tinha viola, os caras inventavam de fazer isto aí. [...] Ninguém tem viola... ah, a gente faz. Aí cortava um gomo de bambu, deste bambu verde, um bambu grosso assim [fez com a mão o diâmetro de aparentemente um pouco mais de 10 cm], aí metia a faca assim, puxava aquela lapada, soltava do lado e do outro e prendia.” “E tinha gente que tocava música mesmo naquilo... naquelas violas de bambu”.

domingo, 29 de novembro de 2015

Cirandas da Ilha Grande: o Caranguejo


Publicado no jornal O Eco (Angra dos Reis, Ilha Grande), dezembro de 2015

Os bailes de ciranda eram manifestações tradicionais comuns, em um passado recente, por todo o sul do Estado do Rio de Janeiro. Dentre as cantigas de ciranda cantadas na Ilha Grande, o Caranguejo é uma das mais amplamente conhecidas. Como é característico das canções folclóricas, que não possuem autor conhecido e cada um que as canta lhes acrescenta ou tira algo, o Caranguejo possui melodias e versos variáveis, que mudam com o tempo e com a região. Dulce Martins Lamas, que publicou um artigo intitulado Folclore musical de Paraty, na Revista Brasileira do Folclore, em 1962, transcreve uma versão do Caranguejo e fala da antiguidade desta dança, mencionando que ela talvez seja uma reminiscência daquela apreciada pelo cronista francês Freycinet, ainda no início do século XIX.
Em outubro de 2015, gravei de Arlete Maria Oliveira de Castro uma variante do Caranguejo que se cantava nos antigos bailes de ciranda na Ilha Grande, onde dona Arlete nasceu e mora até hoje (disponível on-line no link:https://www.youtube.com/watch?v=bfUO4CPdqdc):

Encontrei com o caranguejo / No meio da praia chorando / Por causa de uma conchinha / Que a maré ia levando / Olha o pé, o pé, o pé / Olha a mão que eu quero ver / Sapateia minha gente até o dia amanhecer.





A letra e a melodia desta versão do Caranguejo são bem distintas das publicadas por Dulce Lamas, assim como aquelas publicadas por Cáscia Frade, no livro Cantos do Folclore Fluminense, de 1984, e Thereza Regina de Camargo Maia, em seu livro Paraty: Religião e Folclore, de 1976. Isto sugere que esta variante seja mesmo peculiar da Ilha Grande, embora a cantiga seja tradicional e bastante difundida.

    



sábado, 28 de novembro de 2015

Viola e rabeca de taquara no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro

Publicado no jornal O Eco (Angra dos Reis, Ilha Grande), pág. 28, 06.08.2015

O uso de instrumentos de percussão e sopro na música dos índios brasileiros é bem difundido, ao contrário do que acontece com instrumentos de cordas. Uma referência importante sobre este assunto é o livro “Introdução ao estudo da música indígena brasileira”, de Helza Camêu, publicado em 1977. Neste livro, depois de discorrer e ilustrar por quase sessenta páginas os instrumentos de percussão e sopro, a autora acrescenta apenas as seguintes informações sobre instrumentos de corda, apresentadas de maneira um pouco trucadas:

“Em matéria de instrumento de corda, o índio que vive ainda em sua cultura, embora possivelmente desvirtuada, não se tem revelado muito interessado sob esse aspecto. Tem-se notícia e mesmo o Museu do índio já possui um arco musical e em seu acervo existe uma espécie de cítara de bambu, cujas fibras, desfiadas, se tornam cordas delicadas; procede dos índios Canelas (Ramkonkrameka), ex. 4.877. As cordas são colocadas sobre cavaletes também de bambu e infelizmente não há informação como faziam ou fazem soar a peça”. 
    A Biblioteca Nacional produziu a exposição chamada “Instrumentos musicais indígenas brasileiros”, baseada em desenhos de José Coelho, e publicou um catálogo em 1979, comentado pela Helza Camêu. Nesta publicação está ilustrado o instrumento referido anteriormente pela autora, mas agora ela sugere que o instrumento seja construído do tronco da palmeira buriti, ao invés de bambu, e diz ser originário de índios do município de Barra do Corda, no estado do Maranhão.

Também há algumas citações de que os índios Avá-canoeiros, do estado de Goiás, usam um instrumento que consiste de uma base de madeira escavada na qual se coloca uma corda única. No premiado filme documentário “Histórias de Avá – o povo invisível”, dirigido por Bernardo Palmeiro, há uma rápida imagem deste instrumento sendo tocado.  Mas de qualquer maneira, são extremamente raros os cordofones de origem indígena no Brasil.

No início dos anos 2000, em visita ao município de Paraty, fui informado de que naquela região havia uma tradição de construção de instrumentos de corda de origem indígena feitos de taquara (um sinônimo de bambu) semelhante àquele descrito por Helza Camêu. Eram simples gomos de taquara, do qual se desfiava algumas fibras, fibras estas que eram mantidas estendidas com algum fragmento de madeira ou mesmo de bambu, e que assim funcionavam como o cavalete de um violão; ainda me informaram que estes instrumentos podiam ser tocados com arco, então sendo chamados de rabeca, ou com os dedos, então sendo chamados de viola. 

Um luthier popular, de origem uruguaia, foi o primeiro a me falar sobre esta tradição e a me descrever estes instrumentos. Ele me mostrou algumas rabecas de bambu fabricadas por ele mesmo, dizendo ser uma forma mais sofisticada feita a partir de um modelo de rabeca de taquara de fabricação tradicional indígena, na qual ele acrescenta cravelhas de madeira e cordas de violão. 

A partir disto, passei a recorrer a memórias dos moradores antigos da região para saber mais informações sobre a tradição de construção destes instrumentos, mas consegui apenas poucos depoimentos. Na Vila do Abrahão, na Ilha Grande, a senhora Diamante Cocotós me revelou que havia por lá violas que se enquadravam na descrição que fiz, mas como não mostrei um exemplar e nem uma fotografia dos instrumentos, acredito que seja necessário confirmar esta informação. Em Paraty consegui o depoimento de certo cavaquinista, que tocava na festa de Folia do Divino. Ele me descreveu em detalhes como se construíam violas de taquara e disse ser um instrumento muito rudimentar, usado por aprendizes, e talvez também dado a crianças como um brinquedo de iniciação musical. Além disso, falou que era usado se referir jocosamente a violeiros de baixa qualidade técnica como tocadores de viola de taquara, acrescentado a seguinte quadra referente a isto, que disse ser popular:   

Aprendi tocá viola
numa viola de taquara
uma moça me chamou
violeiro de meia cara  

Anos depois ouvi esta mesma quadra com ligeiras modificações cantada por uma dupla de cantadores violeiros de Minas Gerais, mas não pude averiguar se eles atribuíam os versos a algum autor ou se os consideravam de autor desconhecido.  


Os indícios aqui apresentados, embora bastante escassos e fragmentários, sugerem que de fato existe uma tradição de fabricação instrumentos musicais de corda de origem indígena na região sul fluminense. Uma tradição que aparentemente nunca foi bem documentada, que é rarefeita hoje em dia, com certo grau de endemismo e que está em vias de ser extinta na região. 

Viola angrense: um instrumento musical extinto em Angra dos Reis

Publicado no jornal O Eco (Angra dos Reis, Ilha Grande), pág 24, 01.05.2014

A viola tem suas raízes mais próximas na península ibérica, tendo se fixado em Portugal, ainda no século XV, como instrumento das camadas mais populares. Neste país, a viola sofreu grande diversificação estrutural. Segundo Ernesto Veiga de Oliveira, em seu livro “Instrumentos Populares Portugueses” (1966), são distintos cinco tipos de violas nas terras portuguesas continentais: amarantina, toeira, campaniça, braguesa e beiroa, além de dois tipos nas ilhas dos Açores: micaelense e terceirense. 
Violas portuguesas foram trazidas ao Brasil desde os primórdios da colonização, com relatos deste instrumento na então colônia ainda no século XVI. Sendo um instrumento popular e muito difundido em Portugal, naturalmente, ao longo do período de colonização do Brasil, houve certo fluxo de violas para nossas terras, provenientes de distintas regiões da metrópole.
Hoje a viola é um dos instrumentos musicais tradicionais mais amplamente distribuídos pelo Brasil, especialmente longe dos centros urbanos. Aliada a sua ampla distribuição, está uma grande diversidade estrutural e técnica, que, pelo menos parcialmente, é derivada da diversidade das violas portuguesas que vieram para o Brasil.
Alceu Maynard Araújo foi um grande estudioso da cultura popular brasileira e muito se aprofundou na cultura relacionada à viola no Estado de São Paulo e arredores. Seus estudos foram em grande parte compilados no livro Folclore Nacional, com primeira edição em 1964.  Este autor diz que conhecia quatro tipos de violas no Brasil: a paulista, a cuiabana, a do nordeste e a angrense. Este último tipo ocorria em áreas litorâneas do sul do Estado do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. As violas angrenses são muito distintas de outros tipos de violas brasileiras por possuir um pequeno suporte junto à caixa de ressonância, chamado de ‘periquita’ ou ‘benjamim’, que sustenta uma tarraxa usada para colocar uma corda mais curta. Esta corda curta adicional, a que no Brasil muitas vezes dá-se o nome de ‘cantadeira’, existe nas violas beiroas de Portugal, sendo muito provável que as violas angrenses tenham se derivado de violas portuguesas deste tipo. 
Desafortunadamente, a viola angrense pode ser considerada como um instrumento extinto em Angra dos Reis ou mesmo no Estado do Rio de Janeiro, como previu aquele eminente folclorista que a descreveu, quando relatou o seguinte: “em novembro de 1947, quando estivemos em Angra dos Reis, constatamos que, com o falecimento do antigo fabricante das afamadas violas angrenses, não há mais quem as fabrique naquela cidade sul-fluminense”. Hoje em dia, o nome ‘viola angrense’ caiu em desuso, contudo, este tipo de viola é ainda hoje muito encontrado no litoral de São Paulo e Paraná, ligado à tradição do fandango, sendo chamada simplesmente de viola ou viola de fandango. Cabe aqui lembrar que o fandango paulista e paranaense faz parte da mesma tradição que no sul do Estado do Rio de Janeiro é conhecida como ciranda.
Assim, perdeu Angra dos Reis este instrumento musical tão peculiar que poderia ser mais um símbolo cultural do município. Mas, contudo, ainda é possível resgatar a viola angrense, assim como a tradição musical relacionada a ela, especialmente a ciranda, que também está em processo de desaparecimento na região. Isto poderia ser alcançado, por exemplo, com a criação de grupos de músicas e danças folclóricas caiçaras, dirigidos tanto a adultos como a crianças. Além de uma visão de que o imenso potencial turístico da região pode ser ainda aumentado e aperfeiçoado se forem incluídos roteiros culturais de turismo enfatizando a riquíssima cultura caiçara do sul fluminense.